Pandemia | Como lidar com ela?

Pandemia | Como lidar com ela?


Caros leitores,

Vivemos tempos difíceis. Quando começámos a ver a luz ao fundo do túnel, com melhor conhecimento do vírus, melhor controlo das medidas de higiene e segurança, alívio das restrições e a criação da vacina, eis que chega uma nova vaga com uma estirpe mais agressiva, que nos remete ao confinamento novamente, obrigando à suspensão das nossas atividades, incluindo as letivas, para as nossas crianças e jovens.

É desafiante voltar a cair, quando nos estávamos a erguer. Vivemos uma situação de perda: perda da nossa liberdade; perda das nossas rotinas diárias; perda do contacto físico com familiares, amigos e colegas; perda de experiências importantes para nós, como viajar, frequentar espaços culturais, sair para dançar, jantar ou “beber um copo/café com os amigos” e, em casos mais extremos, a perda de pessoas queridas e de empregos.

E faz praticamente um ano, o que agrava a situação, porque uma coisa é lidar com uma circunstância um dia, outra é lidar uma semana, um mês ou um ano. Por vezes, o difícil não é lidar coma situação, mas lidar com ela durante muito tempo. É como segurar um copo com água, com o braço esticado. À medida que o tempo passa, o copo vai ficando mais pesado. O cansaço começa a apoderar-se de nós e o desespero também.

Como nos diz a psicóloga Maria Palha “quando vivemos uma situação de confronto entre vida ou morte, é expectável que as emoções se desliguem, de modo que o organismo use toda a energia para sobreviver fisicamente à situação. Contudo, para que o organismo consiga integrar tal experiência, é necessário dar um significado emocional ao que aconteceu. Daí que seja saudável e até recomendável, quando já estiver em segurança física, e o mais cedo possível, que o individuo reconheça as suas emoções e consiga, regulando-as, integrá-las.”

E podemos sentir emoções como o medo, a insegurança, a tristeza, o desânimo, a frustração. Faz tudo parte, é natural, é adequado ao contexto. É emocionalmente saudável. Ao contrário, não sentir nada, estar “anestesiado/a”,” funcionar em “piloto automático”, pode ser um sinal de alerta.

A adaptação a uma mudança de vida, e o consequente processamento da experiência emocional, leva o seu tempo, pelo que não devemos estranhar a permanência destas emoções durante um período, de acordo com estudos, entre três e seis meses, acautelando a variabilidade de indivíduo para indivíduo.

Segundo Leslie Greenberg, não há emoções más, todas as emoções, agradáveis ou desagradáveis, têm uma missão que, quando conseguimos descodificar, permite que nos adaptemos melhor ao meio ambiente, promovendo bem-estar.
As emoções funcionam como uma bússola interna, dizem-nos onde estamos, apontam as nossas necessidades e indicam o caminho que queremos seguir. Ignorar, disfarçar ou menosprezar o que sentimos conduz à desvalorização das nossas necessidades, acarretando sofrimento e desadaptação.

As emoções são um fenómeno cerebral com base neuro química fisiológica e linguagem própria, sendo que as respostas dadas pelo sistema límbico influenciam as nossas funções vitais como a reprodução, o batimento cardíaco, o apetite, a transformação da gordura, os níveis de colesterol, a resistência física, a qualidade do sono e a eficiência do sistema imunitário.

A má gestão emocional também ativa o Sistema Nervoso Simpático, gerando stress, com consequências nefastas para a nossa saúde.

Assim, a forma como nos regulamos emocionalmente influencia o bem ou mal-estar na nossa saúde, na relação connosco próprios, com os outros e com o mundo em geral, pelo que é de extrema importância reconhecer as nossas emoções, ter consciência do seu impacto na nossa vida, e geri-las de cordo com o que desejamos para nós e para quem nos rodeia.

Deste modo, quero deixar-vos a mensagem de que, se for essa a nossa vontade (salvaguardando os casos de incapacidade patológica), temos em nós o poder de melhorar o nosso abecedário emocional e de decidir tomar ações que gerem emoções agradáveis, proporcionando o equilíbrio e preservando a nossa saúde física, emocional, mental e espiritual.

Deixo-vos algumas práticas para o efeito: aprofundar o autoconhecimento, praticar a gratidão, fazer uma alimentação saudável, praticar exercício físico regular, meditação, relaxamento, mindfulness, dormir um sono reparador, convívio social gratificante, estabelecer relações interpessoais significativas, fazer atividades estimulantes, estar em contacto com a natureza, entre muitas outras que lhe proporcionem bem-estar.
Ironicamente, as emoções têm algo em comum com o corona vírus, contagiam-se e a forma como lidamos com elas tem impacto não só em nós como nas pessoas com quem nos relacionamos. Ao cuidarmos das nossas emoções, também cuidamos dos outros. Ao protegermos a nossa saúde emocional, somos guardiões da nossa saúde emocional (e mental), e também da dos outros. E nós temos o poder de decidir que contágio queremos transmitir: emoções positivas - força, coragem, alegria, esperança, amor; inspiração, exemplos de superação, ou emoções negativas - tristeza, angústia, desânimo, desespero, ressentimento, raiva, crítica não construtiva, desistência. Nós temos o poder de quebrar o contágio das emoções destrutivas.

Como diz a sabedoria popular “não há mal que dure para sempre”, a vida vai continuar e devemos pensar como queremos que siga o seu rumo? Como nos vamos preparar para o que se segue? Como queremos estar? Como queremos que a nossa família, o nosso trabalho e a nossa vida social estejam?

Porque se só o fizermos depois da crise passar, vamos deixar que este tsunami arrase toda a nossa vida, que a suspenda, e teremos de nos reerguer de toda a devastação causada.

Importa lembrar que não temos de passar pelo processo sozinhos, que é permitido pedir ajuda informal ou especializada. No que diz respeito ao apoio psicológico e emocional, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) disponibiliza serviço de aconselhamento psicológico através do número 808 24 24 24; a Câmara Municipal de Torres Vedras disponibiliza uma linha telefónica gratuita de apoio psicossocial. O atendimento funciona nos dias úteis, entre as 10h00 e as 16h00, através do número 800 200 066. Pode, ainda, entrar em contacto através do endereço eletrónico covid19.apoio@cm-tvedras.pt.

Da parte do Clube Académico de Penafirme, podem contar com serviços de apoio psicológico e de coaching, assim como com diversas atividades desportivas e culturais, que poderão constituir-se como recursos úteis para enfrentar melhor estes tempos.

Como sugestão de leitura, aconselho:
“Uma caixa de primeiros socorros das emoções”, de Maria Palha, para jovens e adultos;

“As minhas emoções. Aprende a gostar das tuas emoções, de Elinor Greenwood, para crianças e educadores.

É nos momentos em que nos permitimos sentir emoções difíceis que é possível encontrar novas soluções e reinventarmo-nos. Juntos, é mais fácil.

Com amizade,
Patrícia Alves Pereira

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